Vamos falar hoje da reescrita, paráfrase e paralelismo!
Reescrita de frases
A reescrita sem alteração de sentido tem o nome de paráfrase. Questões de interpretação com frequência se baseiam nesse conhecimento, nessa técnica.
Neste tema, temos várias frases em que a banca pede para verificar se há respeito à norma culta, e, às vezes, pede qual das alternativas possui atendimento à clareza, à coesão e à coerência. Na realidade, a banca é bem objetiva. Ela quer nos testar quanto ao conhecimento gramatical como um todo.
Uma leitura atenta das alternativas nos ajuda muito.
Vários recursos podem ser utilizados para parafrasear um texto.
1) Emprego de sinônimos
Embora voltasse cedo, deixava os pais preocupados.
Conquanto retornasse cedo, deixava os genitores preocupados.
2) Emprego de antônimos, com apoio de uma palavra negativa
Ele era fraco. Ele não era forte.
3) Utilização de termos anafóricos, isto é, que remetem a outros já citados no texto
Paulo e Antônio já saíram. Paulo foi ao colégio; Antônio, ao cinema.
Paulo e Antônio já saíram. Aquele foi ao colégio; este, ao cinema.
aquele = Paulo; este = Antônio
4) Troca de termo verbal por nominal, e vice-versa.
É necessário que todos colaborem.
É necessária a colaboração de todos.
Quero o respeito do grupo.
Quero que o grupo me respeite.
5) Omissão de termos facilmente subentendidos (elipse)
Nós desejávamos uma missão mais delicada, mais importante.
Desejávamos missão mais delicada e importante.
6) Mudança de ordem dos termos no período
Lendo o jornal, cheguei à conclusão de que tudo aquilo seria esquecido após três ou quatro meses de investigação.
Cheguei à conclusão, lendo o jornal, de que tudo aquilo, após três ou quatro meses de pesquisa, seria esquecido.
7) Mudança de voz verbal
A mulher plantou uma roseira em seu jardim. (voz ativa)
Uma roseira foi plantada pela mulher em seu jardim. (voz passiva analítica)
Obs.: Se o sujeito for indeterminado (verbo na 3ª pessoa do plural sem o sujeito expresso na frase), haverá duas mudanças possíveis.
Plantaram uma roseira. (voz ativa)
Uma roseira foi plantada. (voz passiva analítica)
Plantou-se uma roseira. (voz passiva sintética)
8) Troca de discurso
(discurso direto) |
Naquela tarde, Pedro dirigiu-se ao pai dizendo:
– Cortarei a grama sozinho.
(discurso indireto) |
Naquela tarde, Pedro dirigiu-se ao pai dizendo que
cortaria a grama sozinho.
9) Troca de palavras por expressões perifrásticas e vice-versa
Castro Alves visitou Paris naquele ano.
O poeta dos escravos visitou a cidade luz naquele ano.
Obs.: Perífrase é uma figura de linguagem que emprega várias palavras no lugar de poucas ou de uma só.
“Se lá no assento etéreo onde subiste…” (Camões) (assento etéreo = céu)
Morei na Veneza brasileira. (Veneza brasileira = Recife)
Não provoque o rei dos animais. (rei dos animais = leão)
10) Troca de locuções por palavras e vice-versa:
O homem da cidade não conhece a linguagem do céu.
O homem urbano não conhece a linguagem celeste.
Da cidade e do céu são locuções adjetivas e correspondem aos adjetivos urbano e celeste.
Na reescrita de um trecho do texto ou do parágrafo, vários desses recursos podem ser utilizados concomitantemente, além de outros que não foram aqui referidos, mas que a prática nos apresenta. O importante é ler com extrema atenção o trecho e suas possíveis paráfrases. Se perceber mudança de sentido, a reescritura não pode ser considerada uma paráfrase.
Vamos então fazer uma atividade. Leia com atenção o trecho abaixo e anote a alternativa em que não ocorre uma paráfrase.
O homem caminha pela vida muitas vezes desnorteado, por não reconhecer no seu íntimo a importância de todos os instantes, de todas as coisas, simples ou grandiosas.
- Frequentemente sem rumo, segue o homem pela vida, por não reconhecer no seu íntimo o valor de todos os instantes, de todas as coisas, sejam simples ou grandiosas.
- Não reconhecendo em seu âmago a importância de todos os momentos, de todas as coisas, simples ou grandiosas, o homem caminha pela vida muitas vezes desnorteado.
- Como não reconhece no seu íntimo o valor de todos os momentos, de todas as coisas, sejam elas simples ou não, o homem vai pela vida frequentemente desnorteado.
- O ser humano segue, com frequência, vida afora, sem rumo, porquanto não reconhece, em seu interior, a importância de todos os instantes, de todas as coisas, simples ou grandiosas.
- O homem caminha pela vida sempre desnorteado, por não reconhecer, em seu mundo íntimo, o valor de cada momento, de cada coisa, seja ela simples ou grandiosa.
O trecho foi reescrito cinco vezes. Utilizaram-se vários recursos. Em quatro opções, o sentido é rigorosamente o mesmo. Tal fato não se dá, porém, na letra (E), que é o gabarito. O texto original diz que “o homem caminha pela vida muitas vezes desnorteado…”, contudo a reescrita nos diz “sempre desnorteado”. Ora, muitas vezes é uma coisa, sempre é outra, bem diferente.
Observações
a) Tenha cuidado com a mudança de posição dos termos dentro da frase. Palavras ou expressões podem alterar profundamente o sentido de um texto.
Encontrei determinadas pessoas naquela cidade.
Encontrei pessoas determinadas naquela cidade.
Na primeira frase, determinadas é um pronome indefinido, equivalente a “certas”, “umas”, “algumas”; na segunda, é um adjetivo e significa “decididas”.
b) Cuidado também com a pontuação, que costuma passar despercebida.
A criança agitada corria pelo quintal.
A criança, agitada, corria pelo quintal.
Na primeira frase, o adjetivo agitada é um adjunto adnominal e indica uma característica restritiva do núcleo “criança”. Assim, determina algo inerente a ela, isto é, trata-se de uma pessoa sempre agitada.
Na segunda, as vírgulas indicam que o adjetivo “agitada” tem valor transitório. É o chamado predicativo do sujeito deslocado e dentro de um predicado verbo-nominal.
A construção normal seria:
A criança corria agitada pelo quintal.
Assim, fica mais fácil perceber que a criança está agitada naquele momento, sem que necessariamente ela o seja no seu dia a dia (característica transitória).
As questões de reescritura (paráfrase) já vêm sendo trabalhadas nas nossas aulas desde o início do curso, principalmente nas aulas de sintaxe.
Como muitas vezes a paráfrase se baseia nos conectivos entre orações, vamos elencar abaixo um resumo das principais conjunções e seus valores semânticos, para que você possa consultar quando tiver dúvida e assim ficar ainda mais tranquilo para a prova.
Principais conjunções e seus valores semânticos (coordenadas)
1) Aditivas: e, nem, tampouco, não só…mas também, não só…como também, senão também, tanto…como.
Ele não só ajuda financeiramente, mas também aconselha os amigos.
2) Adversativas: mas, porém, contudo, todavia, entretanto, no entanto.
Ele teve aumento salarial, porém não quis continuar na empresa.
3) Alternativas: ou, ou…ou, ora…ora, já…já, quer…quer.
Faça sua parte, ou procure outro trabalho.
4) Conclusivas: logo, portanto, por conseguinte, pois (colocada depois do verbo), por isso, então, assim, em vista disso.
Realizamos muitos exercícios, por conseguinte a prova foi fácil.
5) Explicativas: porque, pois(anteposto ao verbo), porquanto, que.
Joana está mesmo cansada, porque pediu desconto em férias.
Principais conjunções e seus valores semânticos (subordinadas)
1) Causais: com as conjunções: porque, pois, que, como (quando a oração adverbial estiver antecipada), já que, visto que, desde que, uma vez que, porquanto, na medida em que, que, etc:
Como fazia frio, fechou as janelas.
2) Consecutivas: I – conjunção que precedida de tal, tão, tanto, tamanho.
II – locuções conjuntivas de maneira que, de jeito que, de ordem que, de sorte que, de modo que, etc:
Tal foi o problema na empresa que todos foram demitidos.
Houve um problema na empresa de modo que todos foram demitidos.
3) Condicionais: Além das conjunções condicionais se e caso, há também as locuções conjuntivas contanto que, desde que, salvo se, sem que (=se não), a não ser que, a menos que, dado que.
Caminharei com você desde que não chova.
4) Concessivas: As conjunções são: embora, conquanto, que, ainda que, mesmo que, ainda quando, mesmo quando, posto que, por mais que, por muito que, por menos que, se bem que, em que (pese), nem que, dado que, sem que (=embora não).
Gostava de Matemática, embora tivesse dificuldades com cálculos.
5) Comparativas: representam o segundo termo de uma comparação e se expressam de três formas, com as conjunções como, (tal) qual, tal e qual, assim como, (tal) como, (tão ou tanto) como, (mais) que ou do que, (menos) que ou do que, tanto quanto, que nem, feito (=como, do mesmo modo que), o mesmo que (=como):
A preguiça gasta a vida como a ferrugem consome o ferro.
6) Conformativas: Suas conjunções são: como, conforme, segundo, consoante.
Como disse o prefeito, o IPTU vai subir 5% este ano.
7) Proporcionais: Suas locuções conjuntivas são: à proporção que, à medida que, ao passo que, quanto mais … tanto mais, quanto mais … tanto menos, quanto menos … tanto menos, quanto menos … tanto mais, quanto mais … mais, quanto menos … menos, tanto … quanto (como).
Os alunos respondiam, à medida que eram chamados.
8) Finais: indicam finalidade, objetivo, com as locuções conjuntivas: para que, a fim de que, que (= para que), porque (= para que):
Afastou-se depressa, para que não o víssemos.
9) Temporais: Suas conjunções: quando, enquanto, logo que, mal (= logo que), sempre que, assim que, desde que, antes que, depois que, até que, agora que, ao mesmo tempo que, toda vez que.
Só voltou a jogar quando se sentiu bem.
A fim de aprofundarmos na reescrita, algumas vezes também é pedida nas provas a manutenção do paralelismo.
2 Paralelismo
Paralelismo sintático
Agora, veremos o que é paralelismo!
Você se lembra do que falamos sobre as estruturas coordenadas? Parta do pressuposto de que a justaposição, a enumeração ou a coordenação trazem consigo o valor paralelo. Veja os exemplos para em seguida analisarmos:
- Gosto de estudo, de trabalho e de lazer.
- Gosto de estudo, trabalho e lazer.
O verbo “Gosto” é transitivo indireto e seu objeto indireto é composto, isto é, seus núcleos estão justapostos, coordenados, paralelos.
Veja que, na primeira frase, optou-se por manter a preposição “de” antes de cada núcleo (de estudo, de trabalho e de lazer). Isso não é obrigatório, mas é um artifício argumentativo para reforçar o paralelismo e manter a clareza de que os núcleos seguintes mantêm referência ao verbo. Tanto assim que podemos reescrever esta frase com a omissão dessas preposições no segundo e terceiro núcleo (“de estudo, trabalho e lazer”).
Esse paralelismo pode se manter também no nível do período composto. Quando orações subordinadas estão coordenadas entre si, naturalmente temos o paralelismo. Veja:
O candidato afirmou que a prova estava difícil e que houve pouco tempo de execução.
Perceba que foram prestadas duas informações: “que a prova estava difícil” e “que houve pouco tempo de execução”. Essas orações são subordinadas substantivas objetivas diretas e coordenadas entre si. Elas são o complemento direto composto do verbo transitivo direto “afirmou”.
O paralelismo é isto: visualizar os termos coordenados, repetindo os conectivos ou mantendo em omissão os que iriam ficar repetidos, como fizemos na frase 2 do primeiro exemplo. Agora faremos o mesmo com o segundo exemplo:
O candidato afirmou que a prova estava difícil e houve pouco tempo de execução.
Paralelismo semântico
É a junção de ideias de mesmo campo semântico. Veja um caso:
Fiz duas operações: uma em São Paulo e outra no Rio de Janeiro.
A conjunção “e” uniu os adjuntos adverbiais “em São Paulo” e “no Rio de Janeiro”. Assim, há paralelismo sintático e também semântico, pois une dois termos que se referem a lugar.
Agora, veja um erro de paralelismo semântico:
“Fiz duas operações: uma em São Paulo e outra no ouvido.
Note que “em São Paulo” e “no ouvido”, apesar de paralelamente estruturadas, não indicam circunstâncias de lugar correlatas quanto ao valor semântico. Só por descuido (vício de linguagem) ou por humor ou ênfase (estilístico) é que se poderia construir uma frase sem paralelismo semântico.
Veja mais alguns exemplos, agora de Machado de Assis:
“Gastei trinta dias para ir do Rocio Grande ao coração de Marcela.”
(local habitável concreto X local inabitável abstrato)
“Marcela amou-me durante quinze dias e onze contos de réis.”
(tempo X dinheiro)
“…encontrei no trem da Central um rapaz aqui do bairro, que eu conheço de vista e de chapéu.”
(o modo distante como o conhece X o modo como se veste)
Veja a explicação de tudo o que vimos no vídeo abaixo:
Baixe mais questões aqui!
Reescrita e paralelismo só questões
Agora, veja a resolução no vídeo abaixo:
https://www.youtube.com/watch?v=8bVrSgqTrkw
Você conhece o sistema gratuito de questões de Português?
Clique aqui, faça seu cadastro e pratique bastante!
Siga-me no Instagram: @decioterror
Inscreva-se no meu canal do Youtube: Décio Terror
Estamos também no Telegram: t.me/decioterror